A eficiência produtiva das culturas animais depende de uma série de fatores interligados, como citado nas matérias anteriores, sendo o manejo um ponto extremamente importante. A forma como os animais são conduzidos ao longo de seu ciclo produtivo pode impactar diretamente seu desempenho, saúde e bem-estar. Manejos inadequados resultam em estresse fisiológico, alterações metabólicas e até comprometimento da produtividade, acarretando prejuízos para o produtor e para a cadeia produtiva como um todo.
Aspectos fisiológicos e resposta ao estresse
O estresse em animais de produção ocorre quando há um desbalanço entre as demandas ambientais e a capacidade fisiológica do organismo de responder a elas. Situações como superlotação, transporte inadequado, manejo/movimentação agressivas e instalações deficientes podem estimular respostas fisiológicas adversas nos indivíduos. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) é ativado nessas condições, levando ao aumento da liberação de cortisol, um hormônio associado ao estresse.
O excesso de cortisol no organismo pode reduzir a eficiência alimentar, comprometer o sistema imunológico e dificultar a reprodução. Em bovinos leiteiros, por exemplo, o estresse pode reduzir significativamente a produção de leite devido à inibição da ocitocina, hormônio responsável pela ejeção do leite. Em suínos e aves, o estresse pode levar a queda na taxa de conversão alimentar e aumento da suscetibilidade a doenças.
Feedbacks fisiológicos e impactos na produção
Os animais possuem mecanismos fisiológicos de adaptação ao ambiente, mas quando submetidos a manejos inadequados, esses mecanismos podem ser prejudicados. O estresse térmico, comum em regiões tropicais, é um exemplo claro. Quando a temperatura corporal se eleva além do limite tolerável, ocorre um aumento da frequência respiratória e da sudorese (nos animais que possuem essa capacidade), levando à desidratação e redução no consumo alimentar. Esse cenário compromete a produtividade, seja na taxa de ganho de peso em bovinos de corte ou na produção de ovos em poedeiras comerciais.
Outro fator de grande impacto é a restrição alimentar inadequada. O fornecimento irregular de ração ou dietas mal balanceadas podem resultar em distúrbios metabólicos graves, como a cetose em vacas leiteiras e a síndrome da esteatose hepática (acumulo de gordura no fígado) em aves. O uso indiscriminado de antibióticos e aditivos também pode provocar desequilíbrios na microbiota intestinal, reduzindo a eficiência digestiva dos animais, problemas evitados com bons manejos.
Bem-estar animal e desempenho zootécnico
O bem-estar animal está diretamente ligado ao desempenho produtivo. Animais que vivem em condições estressantes apresentam alterações comportamentais e fisiológicas que comprometem seu desenvolvimento. No caso de frangos de corte, por exemplo, a superlotação em aviários reduz o espaço disponível para locomoção, elevando o nível de estresse e aumentando a incidência de problemas locomotores, como a discondroplasia. Além disso, o estresse crônico pode levar ao canibalismo e agressividade, reduzindo a taxa de crescimento e aumentando a mortalidade de uma só vez.
Em bovinos confinados, o manejo brusco no curral pode resultar em quedas, lesões e hematomas, impactando negativamente o rendimento de carcaça dos animais. Da mesma forma, o manejo inadequado na ordenha pode levar a mastites em vacas leiteiras, reduzindo a qualidade e a quantidade de leite produzido.
Exemplos práticos e soluções
Casos reais demonstram o impacto do manejo inadequado. Em uma suinocultura, a mudança brusca de alimentação sem um período de adaptação levou a surtos de diarreia pós-desmame, elevando a taxa de mortalidade e reduzindo o ganho de peso médio dos leitões. Da mesma forma, em sistemas de produção de tilápia, a falta de controle na densidade de estocagem e qualidade da água resulta em surtos de doenças, comprometendo a viabilidade econômica da criação.
Para mitigar esses problemas, algumas boas práticas de manejo são essenciais:
- Treinamento de funcionários; Para garantir técnicas de manejo adequadas e minimizar o estresse dos animais.
- Ambiente adequado; Com conforto térmico, espaço suficiente e qualidade da água e alimentação assegurada.
- Monitoramento constante; dos parâmetros fisiológicos e produtivos para identificar precocemente sinais de estresse e doenças.
- Protocolos de biossegurança bem estabelecidos para reduzir o risco de surtos infecciosos.
Resumo: A implementação de manejos adequados não só melhora a produtividade, mas também promove o bem-estar animal, resultando em sistemas mais sustentáveis e economicamente viáveis. O investimento em boas práticas é, portanto, essencial para garantir o sucesso das culturas animais e atender às crescentes exigências do mercado consumidor, além de ser uma das áreas da zootecnia.
Escrito por: Paulo Vitor Muguet de Oliveira (UFRRJ)
Referências:
GRANDIN, T. Livestock Handling and Transport. 5th ed. CABI, 2019.
EMBRAPA
Publicado: 07/07/2025
Otimo conteúdo da matéria! É muito importante falar também sobre o manejo correto dos animais em produção.
Parabéns pela qualidade do seu site! É de muita importância para a comunidade acadêmica!
Obrigado! Continuaremos trabalhando para trazer cada vez mais!